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Dentre as formas de apoio à projetos sociais existentes, a utilização de mecanismos de incentivo fiscal no Brasil não é utilizada em toda sua potencialidade. Se considerarmos que para cada R$ 4 investidos na Lei Federal de Incentivo à Cultura é possível aportar R$ 1 em cada um dos demais mecanismos voltados para empresas tributadas no lucro real, percebemos que existe um potencial não aproveitado de investimento disponível nos demais.

Fonte: BISC Relatório 2019, 2020. Comunitas

Dentre os fatores que contribuem para essa disparidade temos a falta de conexão entre empresas e projetos, já que não existe um banco de dados unificado que centralize as informações de todos os projetos aptos ao investimento, o que dificulta a identificação e seleção da destinação do recurso disponível. Tais dados são apenas um recorte da realidade de investimento privado no país, que refletem também na lógica de apoio com recursos diretos, uma outra modalidade de incentivo.

Busca e seleção de projetos sociais. Por onde começar?

 

O primeiro passo é identificar qual ou quais os tipos de recursos que a empresa dispõe para incentivar projetos/instituições. Existe recurso disponível para aplicação direta – sem dedução fiscal? Existe o interesse e possibilidade em utilizar o benefício fiscal concedido por mecanismos de incentivo?

Respondidas essas questões, é o momento da busca e seleção de projetos sociais que corroborem com os valores da empresa. É necessário considerar alguns fatores importantes para a escolha do método de busca a ser utilizado e posteriormente para a seleção dos projetos, dentre os fatores estão o porte e segmento da empresa, valor disponível para investimento social, localidades de atuação, causas e públicos que desejam apoiar, além de temáticas que possuam afinidade com investidor social.

Existem vantagens e desvantagens na utilização dos diferentes métodos de busca e seleção de projetos sociais, portanto é importante que sejam ponderados os prós e contras de cada um deles.

Indicação de colaboradores

Implementação de uma política de indicação de instituições por parte dos colaboradores da empresa que pode ser feita por meio de formulário, e-mail, ou o formato que melhor se encaixe ao porte e cultura da empresa.

É um método interessante para empresas iniciantes no investimento social, mas também é utilizado por empresas de grande porte como um método auxiliar de busca e seleção de projetos sociais.

Prós:
• iniciativa já conhecida pelo colaborador, o que pode aumentar o engajamento em ações de voluntariado corporativo;
• aumento do envolvimento dos colaboradores em processos de decisão do direcionamento do investimento social da empresa, o que pode fortalecer o endomarketing;
• não demanda grandes esforços por parte do setor de responsabilidade social em realizar a busca;
baixo investimento de recursos diretos da empresa na busca dos projetos.

Contras:
alta exclusão de projetos que porventura não sejam conhecidos pelos colaboradores, projetos que poderiam causar maior impacto social e/ou maior projeção de marca para o apoiador;
• processo não muito acessível para proponentes – famoso “quem indica”.
• as propostas recebidas podem não estar alinhados à temática, público de interesse e diretrizes da empresa.

Busca ativa

Busca de projetos sociais em plataformas de leis de incentivo, publicações em diário oficial, redes de organizações sociais e contato direto com organizações. Em geral, alguns mecanismos disponibilizam informações dos projetos aprovados e aptos a captação de recursos.

Prós:
• contato com mecanismos diversos e projetos de todos os segmentos;
maior conhecimento do território de interesse, permitindo o conhecimento de projetos existentes na região de modo mais amplo, o que pode contribuir também para o fortalecimento comunitário;
• em alguns mecanismos é possível conseguir informações completas a respeito dos projetos como no sistema da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Versalic), alguns mecanismos que possuem plataformas próprias permitem também acesso a lista de apoiadores e valor aportado por cada um, como na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Portal do Esporte);

Contras:
• no geral, informações difusas e incompletas;
grande número de mecanismos com alta carga de informações, o que pode dificultar o entendimento, caso o responsável não possua domínio nesse tipo de busca;
• as plataformas de leis de incentivo, em geral, não apresentam dados dos proponentes, informações sobre aportes já recebidos pelo mesmo, ou mesmo informações completas a respeito do projeto como objetivos e metas, aumentando o trabalho durante a busca;
• demanda muitas horas de dedicação do responsável pela busca e seleção.

Banco de projetos

A busca e seleção de projetos sociais através de um banco de projetos acontece de modo contínuo, gerido pela empresa, podendo ser realizado em formulário online, encaminhamento por e-mail ou espaço reservado dentro do site da empresa.

Prós:
• atrai proponentes alinhados com a política de investimento social da empresa;
diminui o esforço de busca a projetos, tendo em vista que os proponentes que encaminham as propostas;
• permite definir informações necessárias que deverão constar no envio da proposta, além de disponibilizar o contato do proponente;
• projetos disponíveis para seleção durante todo ano, o que facilita a realização de aportes em momentos definidos pela empresa;

Contras:
• como o processo de submissão é contínuo, o período de seleção pode não estar alinhado ao prazo de captação do projeto, ou ainda, o mesmo já ter atingido seu saldo a captar – no caso de projetos incentivados;
• o recebimento de projetos de modo contínuo diminui a possibilidade de comparação entre propostas dentro de um mesmo período.

Editais

Elaboração de edital contendo diretrizes de doação/patrocínio da empresa, segmentos que deseja apoiar, definição de causas e público beneficiário, localidades de execução dos projetos, valor das propostas a serem apresentadas e períodos de submissão e análise das propostas, além de critérios de seleção das mesmas.

Prós:
• organização das propostas e recebimento de informações selecionadas, de acordo com definição do próprio edital e formulário de envio, impede o envio de material em formato não padronizado facilitando a comparação entre projetos;
define o período para recebimento de propostas, colocando todas as propostas recebidas em um único momento;
• recebimento de propostas mais alinhadas com o perfil buscado pela empresa, restringindo, por exemplo: local de execução, público beneficiário, segmento, valor, dentre outras características que podem ser incluídas como critério de seleção;
• Processo favorece a democratização de acesso ao recurso da empresa por parte das organizações, demonstrando transparência e compromisso com a tentativa de igualdade ao acesso;
• Define e organiza a documentação necessária para compliance;

Contras:
• necessitam de horas de dedicação para pesquisa prévia de impacto social, definição de linhas de atuação, elaboração das diretrizes do edital, e critérios avaliativos;
necessita de um canal de recebimento de propostas organizado e acessível aos proponentes;
• demanda uma carga de trabalho para análise e divulgação de resultados.

Não é preciso eleger apenas um método para o recebimento/busca de projetos, um pode ser complementar ao outro. O ponto principal é ampliar o olhar para os meios de incentivo à projetos sociais, suas possibilidades e os métodos diversos de escolha de propostas. Independente do porte da empresa ou de recursos disponíveis para custear o processo de seleção, existem instrumentos para todos os perfis de investidor social.

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