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Realizada de forma bianual pela Pipe Social, com o apoio de 55 organizações, a segunda edição do “Mapa de Negócios de Impacto Social + Ambiental”, lançado em março de 2019, traz novos dados sobre o perfil e atuação das iniciativas de impacto no Brasil. O estudo faz um panorama da área a fim de pensar em estratégias capazes de fomentar e apoiar os diversos atores do setor.

Por meio de uma convocatória para o cadastramento de negócios de impacto – iniciativas que geram impacto social e produzem resultado financeiro sustentável e positivo – a Pipe Social teve acesso a uma amostra de 1002 empreendimentos para a edição deste ano. Além dos dados quantitativos, o estudo teve como fonte dados secundários, entrevistas qualitativas com empreendedores e com especialistas da área.

Entre a publicação da primeira edição, em 2017, e a segunda, houve um aumento de 73% do pipeline de negócios registrados. Quase 4 em 10 negócios mapeados tem menos de 2 anos. Para a edição 2019, houve a atualização de 30 cadastros, o que indica que estes negócios ainda estão em atuação.

Confira os principais destaques e tendências do estudo.

Perfil: uma questão de gênero e cor

Os negócios de impacto também repercutem padrões do mercado tradicional. A maioria dos negócios mapeados possuem como fundador um homem (66%), branco (66%) que possui entre 30 e 44 anos de idade (53%) . A presença masculina é reforçada também quando se avalia o quadro societário do negócio no qual, em 50% dos casos, é composto exclusivamente ou majoritariamente por homens.

O estudo mapeou que os negócios presentes nas faixas de faturamento entre R$500 mil e R$ 1 milhão são constituídos, em sua maioria, por homens (67%). Já a presença feminina cresce na faixa de faturamento até R$ 100 mil e na base de negócios formalizados como MEI ou não formalizados.

Os homens possuem mais acesso ao capital via investidores profissionais, já elas acessam outros mecanismos para captar recursos para seus negócios, como doações e empréstimos bancários.
Outros perfis que encontram uma trajetória mais desafiadora é a de empreendedores não-brancos e empreendedores jovens. Há maior presença dessas categorias no chamado Vale da Morte, período no qual o negócio ainda não atingiu seu ponto de equilíbrio..

O Panorama dos investimentos

De acordo com o estudo, 8 em cada 10 negócios ainda estão captando investimentos e a demanda é captar um ticket médio mais baixo, uma vez que 64% dos negócios indicaram ter a expectativa de captar até R$ 500 mil.

Em relação às fontes de recursos para alocação ao longo da jornada do negócio, destaca-se a utilização de capital próprio, utilizado por 42% dos respondentes. O capital misto vem em segundo lugar, utilizado por 34% dos negócios, seguido da utilização exclusiva de capital de terceiros (24%).

O Mapa ressalta a importância do acesso à própria rede de relacionamentos, uma vez que 1 a cada 4 empreendedores declarou utilizar essa fonte de recurso. As demais fontes, principalmente aquelas provenientes de investidores profissionais, ficou aquém do demandado.

O estudo constatou que:
– Há baixa atuação de fundos e investidores fora do eixo sudeste
– Mulheres captam mais via rede própria e governo enquanto os homens acessam uma variedade maior de fontes de captação
– Negócios no chamado Vale da Morte encontram menor disponibilidade de captação
– Negócios não acelerados ou que não investem energia para desenvolver métricas de impacto tendem a acessar um menor número de fontes de capital

Dos 1002 negócios mapeados, 22 já captaram algum tipo de recurso por doação. No entanto, o estudo destaca que esses eventos não devem ser confundidos com o modelo de negócio e pode ser muito bem vindo nas primeiras etapas da jornada. Os negócio voltados para as áreas de cidadania e educação são os que mais captam via doações.

Segundo o Mapa, há uma tendência de crescimento da oferta de crédito mais acessível e da democratização de oportunidades de investimentos de impacto por meio de plataformas. Em função desse cenário, começam a despontar novas oportunidades de financiamento, tais como o Microcrédito, Equity Crowdfunding e Venture Philantropy.

Tecnologia

A tecnologia pode ser uma boa aliada dos negócios de impacto, uma vez que ela promove a inovação social, democratiza o acesso e potencializa a escalabilidade das soluções. O Mapa aponta que a utilização de tecnologia na condução do negócio pode acelerar seu desenvolvimento, possibilitando até mesmo que o empreendimento corte caminho nas etapas da jornada de negócio, sobretudo nas fases de organização e pré escala.

Das ferramentas tecnológicas emergentes no mercado citadas no estudo, destaca-se o uso de Big Data e Inteligência Artificial, apontadas por 27% e 26% dos entrevistados, respectivamente. De dois anos para cá, houve um salto significativo nos uso de energias renováveis, cuja utilização pelos empreendedores cresceu de 1% para 20% e da internet das coisas que subiu de 2% de utilização para 20%. No entanto um número relevante dos empreendedores da amostra (26%), ainda não apresentam ou não usam nenhuma das tecnologias emergentes na condução de seus negócios.

Negócios que atuam na área de Cidadania, são os que menos utilizam tecnologia. Este fato pode apresentar uma boa oportunidade de negócio a ser preenchido pelas chamadas civitechs ou govtechs. Este tipo de negócio busca desenvolver soluções para governo e toda sua cadeia, auxiliando na melhoria da eficiência, transparência e na redução de custos.

Assim como acontece no processo de captação de investimentos, a questão de gênero e raça expõe um paralelo contrastante. Dos negócios que declararam não utilizar nenhuma tecnologia a maioria é formada por empreendimentos cuja a presença feminina é mais forte ou que possuem equipe majoritariamente formada por pessoas de etnias não-brancas.

A relevância da utilização de tecnologia no negócio se torna evidente quando se analisa os empreendimentos socioambientais que já foram acelerados ou que tiveram sucessos na captação de investimentos. O Mapa indica que negócios que utilizam tecnologia tendem a ter acesso a maiores oportunidade de captação de recursos financeiros. Além disso, não utilizar nenhuma ferramenta de base tecnológica pode fazer com que o empreendedor tenha que rever, no futuro, seus serviços /produtos ou seu modelo de negócios.

Distribuição geográfica, formação e mentoria

Conhecimento é um dos recursos mais valorizados para um empreendedor social, imprescindível para fortalecer todo o ecossistema de impacto. Ainda que grande parte do pipeline se encontre na região sudeste (62%), o estudo aponta uma diversificação nas modalidades de aceleração, com destaque para o fortalecimento de redes regionais, extrapolando a concentração do eixo sudeste.

As periferias urbanas também começaram a ser contempladas, uma vez que cresce o número de negócios voltados para a base da pirâmide: 8% dos empreendimentos mapeados se dedicam exclusivamente a ela e 88% dos negócios também oferecem soluções para esse público, ainda que de forma não prioritária.

Embora as oportunidades de aceleração estejam crescendo, metade dos entrevistados declararam que já tentaram ingressar em algum processo de aceleração, mas não tiveram sucesso.

Principais tendências

Como conclusão dos dados levantados, o 2º Mapa de Negócios de Impacto indica quatro tendências:

Maior entrada de grandes empresas no setor:

As novas demandas da sociedade em relação às empresas passam por consumo consciente, transparência das marcas e vínculo entre propósito e sustentabilidade. Essa alteração do mindset social vem atraindo grandes empresas para a área dos negócios de impacto, que se aproximam tanto de forma direta, quanto via modelos de apoio em infraestrutura, expertise, parceria, patrocínio e até mesmo P&D.

Verticalização do ecossistema:

Grandes empresas entram em campo para influenciar também sua cadeia de suprimentos .Sendo assim, o setor de negócios de impacto tende a ser transversal para complementar ou impulsionar outros mercados

Projeção do Brasil no cenário internacional:

Como país em desenvolvimento, o Brasil apresenta diversos desafios sociais que necessitam de soluções. Iniciativas brasileiras estão sendo reconhecidas e premiadas internacionalmente, despertando o interesse de empresas e investidores para o país. Por isso, a tendência é que o pipeline deve amadurecer e aumentar nos próximos anos.

Fortalecimento da identidade do setor:

O setor de negócios de impacto está em alta, pautando a agenda social e a mídia tradicional. Essa efervescência auxilia no surgimento de novos empreendimentos e faz com que empreendedores que já atuavam com soluções de impacto se reconheçam como parte desse mercado. Além disso, esse movimento traz novas discussões e critérios tanto para o empreendedor quanto para o campo dos negócios de impacto.

Para conferir o relatório completo, com o detalhamento dos dados e análises, acesse o Pipe Social.